Carnavalesco é um jogo de Alocação de Dados, para 1 a 5 jogadores, de autoria do game designer canadense (quase brasileiro) Ron Halliday e lançado pela editora Precisamente Jogos. Como o nome já indica, sua temática é o Carnaval, mais especificamente os quesitos avaliados em um Desfile de Escola de Samba.
– TEM GRINGO NO SAMBA: UMA REFLEXÃO
Antes de começar a tratar do Carnavalesco em si, explicando suas regras e fazendo a devida análise, gostaria de propor uma reflexão sobre a publicação de jogos com temáticas nacionais. O texto a seguir tem como objetivo suscitar alguns questionamentos, não apresentar respostas.
Quem acompanha aqui o Turno Extra sabe o quanto aprecio jogos nacionais, como sempre destaco esse é um grande foco do canal. E gosto mais ainda, quando o jogo além de ser brasileiro, ainda traz uma temática relacionada a nossa cultura, o que infelizmente ainda acontece bem menos do que desejado.
O Carnaval é um dos maiores símbolos do Brasil, uma celebração conhecida e admirada no mundo inteiro. Então, sempre me pareceu estranho não existir jogos sobre o tema. Além do Carnavalesco, eu já tivemos a oportunidade de jogar 2 outros protótipos, 1 deles inclusive de um game designer bastante conhecido, com jogos já publicados. Por que demorou tantos anos para termos um jogo sobre Carnaval lançado?
É curioso questionar também sobre o porquê do primeiro jogo lançado com esse tema ser de autoria de um game designer estrangeiro. Por mais que o Ron Halliday more no Brasil e esteja familiarizado com a nossa cultura, ele ainda assim é um “gringo no samba”. Faltam autores nacionais fazendo jogos sobre os nosso temas? Talvez eles não existam na quantidade desejada, mas eles certamente existem.
Mas qual o incentivo que se tem para a criação de jogos com temática nacional quando um tema “neutro” é muito mais bem aceito? Já joguei alguns ótimos jogos com temática nacional, tanto de autores conhecidos quanto de autores desconhecidos, que até hoje não chegaram nem perto de serem publicados.
Um argumento comum é a internacionalização do jogo, um tema “neutro” supostamente facilitaria o processo, enquanto que um tema nacional dificultaria porque seria “estranho” para o restante do mundo. Particularmente, acho esse um argumento sem sentido e que não se sustenta em pé após meio segundo de reflexão.
Quantos jogos já jogamos cujo tema é completamente “estranho” para nós? Jogos sobre partes muito específicas de lugares ou histórias que nos são absolutamente distantes. Isso para não falarmos dos jogos feitos por europeus tratando de temáticas de civilizações pré-colombianas, algo que virou uma “febre” nos últimos anos.
– ACADÊMICOS DOS DADINHOS COLORIDOS
Os questionamentos acima de forma alguma visam desmerecer o excelente trabalho apresentado pelo game designer Ron Halliday em seu jogo Carnavalesco, que já chegou na coleção assumindo o posto de um dos meus jogos favoritos e também já se encontra entre os mais jogados.

Como sempre gosto de destacar, Carnavalesco é um dos jogos abstratos mais temáticos que eu já tive o prazer de jogar até hoje. A forma como a regra de alocação dos dados representa o princípio básico de cada quesito é algo que impressiona. É perceptível todo o cuidado e dedicação que foi empregado na mecânica para ser condizente com o aspecto temático.
Outro ponto de destaque é a tabela para cálculo das notas quando o jogador não consegue cumprir a regra do quesito com exatidão necessária para uma nota 10. Eu conheci Carnavalesco bem no início da ideia e lembro da primeira tabela que era bastante complexa. Ver o quanto esse elemento foi melhorado até chegar a simplicidade da versão final me surpreendeu.
Carnavalesco é um jogo bastante simples de regras em geral, bem rápido de explicar e já sair jogando, mesmo com pessoas menos familiarizadas com jogos modernos. Cada quesito possuir uma regra de alocação de dados pode parecer um pouco confuso a princípio, mas a coerência temática facilita muito, mesmo para quem não é um grande entendedor de Desfiles de Escolas de Samba.
– ENTRANDO NA AVENIDA (COMO JOGAR)
Em Carnavalesco, cada jogador recebe um tabuleiro individual e uma tabela de pontuação que será posicionada acima dele da cor correspondente. Existem diferentes tabelas que funcionam como níveis de dificuldade da partida. Tematicamente, essas tabelas representam os diferentes grupos que uma Escola de Samba participa. Esse elemento se torna ainda mais importante como será explicado mais adiante ao apresentarmos o Modo Solo.


A quantidade de dados que serão colocados na bolsa é a mesma para partidas de 1 a 4 jogadores, já em partidas para 5 jogadores haverá um acréscimo. O que irá mudar de acordo com a quantidade de jogadores é quantos dados serão retirados da bolsa a cada rodada, podendo haver ou não sobra de dados a serem devolvidos.

Na sua vez, o jogador irá pegar 1 dado e alocar em qualquer quesito desejado, não é necessário seguir nenhuma ordem. Uma vez posicionado o dado, ele não pode ser mais trocado de lugar. Em partidas para 2 jogadores, cada um pega 2 dados em vez de apenas 1 e os 4 últimos que sobrarem voltam para bolsa. Em partidas para 5 jogadores, o primeiro jogador também pega 2 dados. Cada quesito é completado utilizando 4 dados.
Vamos a regra de alocação de dados de cada um dos quesitos:
– Comissão de Frente: 4 dados de cores iguais somando entre 10 e 15.

– Mestre Sala e Porta Bandeira: 1 par de cor igual ímpar e 1 par de cor igual par.

– Enredo: 4 dados usados em outros quesitos.

– Alegoria e Adereços: 4 dados de cores e números diferentes.
– Fantasias: Os mesmos dados usados no quesito Alegoria e Adereços.

– Evolução: 4 dados em valores sequenciais.

– Harmonia: 4 dados iguais tanto em cor quanto em número.

– Bateria: 4 dados de números iguais, mas não pode ser igual ao usado no quesito Harmonia. As cores podem ser diferentes.

–Samba-Enredo: 4 dados de cor ou número que não tenha sido usado em nenhum dos outros quesitos.

Ao cumprir com exatidão a regra do quesito, ele é pontuado com a nota 10. Caso isso não ocorra, então haverá o cálculo da nota de acordo com a tabela adotada na partida. O cálculo será realizado a partir do somatório do valor dos dados alocados naquele quesito para verificar a nota correspondente na tabela. Cada quesito possui 3 possibilidades de bônus a serem aplicados em casos de cumprimento parcial de suas regras. É importante manter a atenção a isso.


No início da partida, a alocação dos dados é bastante tranquila, pois existe um grande número de possibilidades. Porém, conforme a partida avança, a quantidade de espaços livres vai diminuindo e as decisões tomadas sobre usos de cores e números nos quesitos vão tornando mais complicadas as escolhas.
Não é impossível, mas é extremamente difícil, fazer a nota máxima em todos os quesitos. Ao se antever que determinado quesito não será possível de fechar com perfeição, a estratégia é tentar usar dados de valor alto para completá-lo e cumprir algum bônus. Entretanto, o cálculo precisa ser preciso, pois tanto um somatório baixo quanto um alto significam nota baixa.
A partida termina quando todos os jogadores estiverem com todos os quesitos preenchidos. A contagem da pontuação em Carnavalesco é bastante divertida por causa de seu tema, em outros jogos essa costuma ser uma parte muitas vez apenas burocrática. Um jogador lendo cada um dos quesitos e notas em voz alta é essencial, como em uma apuração de resultado de desfile.

– MODO SOLO
No Modo Solo, o jogador fará uma espécie de campanha, em que irá utilizar cada uma das tabelas de dificuldade (da mais fácil para mais difícil) que representam os diversos grupos em que uma escola de samba pode desfilar de acordo com o seu desempenho.
É um Modo Solo bastante tradicional em sua mecânica de desafiar o jogador a fazer o maior somatório de pontos e de acordo com isso classificá-lo em categorias de valor, porém combinou perfeitamente com o tema, sem que fosse preciso nenhum acréscimo, só aumentou a importância de um elemento já presente no jogo
– CONCLUSÃO
Carnavalesco é um jogo simples, rápido e bastante divertido. Agrada tanto quem é fã do tema quanto que é indiferente a ele. Seu valor pode ser considerado um pouco elevado devido a sua grande quantidade de dados. Não é um jogo portátil, apesar de seus componentes não serem muitos, basicamente dados e tabuleiros. Funciona muito bem com qualquer quantidade de jogadores, só não experimentei ainda o solo e com 5 pessoas.
Por ser um jogo abstrato, Carnavalesco não possui quase nada em termos de arte, mas acho que vale destacar a belíssima capa do jogo e a parte de traz dos tabuleiros de jogador. Quanto a qualidade de componentes, belo trabalho da Precisamente Jogos: a caixa é resistente, vem com um berço de plástico (raridade) que acomoda perfeitamente todos os elementos do jogo, os dados translúcidos com glitter combinando com o tema, tabuleiros que não empenam, bolsa com o nome do jogo.

Confira também a nossa análise em vídeo sobre o jogo:
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